quarta-feira, 12 de março de 2008

Síndrome "Call me"

Não é pessimismo achar que toda a vez que uma pessoa diz o maldito "Call me", tem coisa ruim vindo em minha direção. E eu vou explicar o por quê.
Otimista é aquele que abre a porta com -15 e sensação de -40 de pijama as 6 da manhã pra pegar o The Gazette (jornal) e ele não está lá, e mesmo assim o cara pensa "Eba, posso comprar o La Presse pra variar!". Já o pessimista, na mesma situação, pensa "Aquele @#$#$@($*#&%#&, basta a temperatura baixar de zero que o @@#@*%&#$¨&#$#& não me entrega o jornal, vou cancelar esta M@#$@#a!" Tudo bem, isto tá mais ligado ao humor, mas o pessimista não tem humor... O dia dele começa dai. Mas o meu dia não vive cinza, não sou assim, mas quando vejo a frase "Call me", penso que não deveria ter saido da cama.
Quando estive nos USA trabalhando, enfrentei uns americanos casca-grossa, que batiam sem dó, e voltei gostando muito menos deste povo, apesar de admirar algumas coisas de lá. E meu trabalho aqui é atendendo uma empresa dos USA, lidando basicamente com americanos por fone, e fui sorteado pra um sistema em que tenho que interagir com o PIOR dos americanos da empresa... É, parece mentira, não fiquei livre deles, e nem eles de mim. A maior parte das coisas rola por e-mail e chat, e como meu inglês ta muito ruim (esteve pior a 4 meses atrás qdo comecei lá), fico tranquilo enquanto tá na escrita. O problema não é falar, mas sim o branco que dá quando se está sob pressão, e o cara só sabe fazer isso, pressionar.
Ele vive numa cidade na região da Nova Inglaterra, norte dos USA, numa cidade de uns poucos habitantes, no meio do nada, ta prestes a aposentar e não gosta de ser perturbado com trabalho, segundo as más línguas. Entra as 7 e sai as 4, sabe muito, faz pouco e acha que a empresa funciona por causa dele. Não aceita ordens nem do presidente, não aparece nos conference-calls e trabalha de casa às sextas após o almoço. E detalhe dito pela própria boca do figura: não gosta de Canadense - eles estão roubando nossos empregos!
Acaba que chega eu, querendo compensar minha péssima fala com trabalho, querendo por as asinhas de fora e trabalhar, entender, resolver, no momento completamente oposto do dele, e ainda quando ele tenta reclamar comigo, não me afeta pq eu não entendo, e ele fica mais furioso pq não me entende!
Mas não é fácil. Lá to eu num dia tranquilo, preparando as coisas pra fechar a lojinha, quando o chat pula na minha tela com a frase "Call me"... Confesso que é pura emoção... "Que alegria" diria Sergião... E quando eu to precisando resolver algo urgente, e chega um ponto que não tem mais por onde, tenho que perguntar pra ele... Entro no chat e todo educado, explico a situação, mas a única resposta é... Call me... Meu, já fiz plantão e fiquei com trauma do toque do celular, sonhei que tinha sido arrastado por uma SUV amarrado numa corda pelo Texas, mas nunca imaginei que duas palavras pudessem fazer tão mal...
Mas vamos em frente, de alguma forma tenho que aprender algo por aqui, e esta sendo bom, acho que o primeiro impacto já foi, eles não me olham mais como se eu tivesse saido do primário e não tentam me ensinar aonde fica o "ENTER"...
O mais legal foi o dia que ficamos doente em família aqui, todos juntos num find. Ai eu não fui na segunda. Na terça fui meia-boca e no fim do dia, eu já abendando, o chat pula em minha tela... Ao invés do "Call me", ele pergunta: e ai, como foi a entrevista?
Num fim de tarde como estes, o otimista pensaria: Ufa, não pediu pra eu ligar! Já o pessimista...

2 comentários:

Anônimo disse...

O mais otimistas dos otimistas, diria: I just call, to say "I love you", provavelmente também o mais louco...

Abs,
Adriano

Unknown disse...

Pila... eu e Alessandro gostamos de te ver com esta baita família, neste baita frio... com este baita otimismo... beijos, Lu Pereira.