quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Rotina Enfim

Enfim ele havia saido da rotina... Andar apressado, ele passava pela galeria subterrânea de acesso ao trem e ao chegar ao topo das escadaria percebeu que sua pressa era sem razão, ainda faltavam 3 minutos, e além do mais, ela estava dois metros a sua frente... Seria impossível o dia ter sido difícil assim para ela também...
Todos os dias ele saia do escritório no lado leste da cidade as 15:58, e as 16:01 pegava um pequeno trem de superfície que o levava ao metro. Eram 15 minutos até a estação final do pequeno trem, e durante este tempo ele sempre comia a outra metade de seu “muffin”, lendo o que faltava ler do jornal gratuito do metro, que ele sempre pegava no terceiro vagão, primeira porta. Após 15 anos nesta rotina, o último banco do lado direito até parecia ter o formato de seu traseiro. Entrava no vagão calmamente, batia no veludo azul do banco pra espantar qualquer sujeira e sentava, pendurando a mochila nos joelhos, pra ficar com as mãos livres pra folear um romance qualquer que ele sempre carregava para estes momentos de tranquilidade. Lia sempre após abrir uma bala de café, que adentrava sua boca sempre antes do porta fechar, aproximadamente 43 segundos após ele pisar no vagão. Eram 38 minutos que o levava de leste a oeste da cidade, e pelos mais fabulosos momentos do romance que ele devorava pela viagem a fora. Ao ouvir o anúncio da estação que tinha o nome de sua sobrinha mais nova, ele fazia uma pequena dobra no canto da página, guardava o livro no ziper central da mochila, e colocava o óculos de sol, já que deste trecho em diante o metro não era mais subterrâneo, dava para ver a paisagem vezes branca, outras pastel, ou ainda verde vivo. Contava assim mais 3 estações até levantar-se e ficar face a face com a porta, que abria sempre as 17:08, dando a largada pra sua corridinha ao fundo da plataforma, onde descia a escada, saia pela catraca e entrava na tal galeria subterrânea que dava acesso a plataforma do magnífico trem suburbano. Subia então a escadaria, passava pelo guichê dando um sorriso ao caixa, e abria a porta de acesso a plataforma. Andava todo dia os mesmos 27 metros até o quarto banco, ligava o radinho para ouvir um programa chamado “Beatles Break”, e tomava o último assento do lado direito sob o sol da tarde. Enquanto se deliciava ouvindo seu programa favorito, comia uma banana, e olhava para a esquerda para esperar a mesma cena vista todos os dias por volta das 17:19.
Ela abria a porta de acesso a plataforma sempre apressada, mas com um ar maroto-juvenil, que após tantos anos não era mais tão juvenil assim. Andava apressada pelo mesmo traçado vindo em sua direção. Usava roupas brancas que ele podia apostar serem de enfermeira, já que o calçado também era claro e limpo. Ela jamais olhara diretamente nos olhos dele, vinha firme buscando o horizonte, sempre como quem fosse passar direto, mas quando estava quase a sua frente, o cadarço se desatava... Ela repetia o mesmo olhar envergonhado, e com um meio sorriso, sentava-se todos os dias no mesmo banco, deixando um lugar vago entre eles. Ouvia-se então o sino do trem, e exatamente as 17:26 ele levantava, aguardava que ela se dirigisse a porta que se abria imediatamente a frente do local onde eles estavam, ambos aguardavam os passageiros descerem, entravam no vagão, mas nunca ousaram se sentar lado a lado.
Mas hoje algo incomum aconteceu, e a morte de um ente querido o fez chegar mais tarde ao escritório, o fez sair atrasado, e sem comer nada o fez perder o seu metro, e seu assento. Sem ler ou ver a cor das árvores, ele estava ali agora subindo as escadas correndo, e tantos anos se passaram pra ele estar numa desconfortável e atrasada distância de dois metros dela. Ela sorri para o caixa do guiche sem notar sua presença, caminha até a porta de acesso a plataforma, mas antes de abri-la, para e esfrega um de seus pés no outro cadarço, afrouxando-o. Olha para os lados dissimulada, abre a porta e caminha em direção ao banco de todo dia. Quando percebe o último lugar vazio ela olha para trás e percebe a presença dele, que não esboça qualquer reação. Ela senta no lugar de todo dia. Ele passa por ela e também senta no lugar de sempre. Talvez essa fosse a oportunidade pra dizer algo, mas... Seria muita mudança pra um só dia... E além disso ele nem havia ligado o radinho ainda e o seu programa favorito estava pra começar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um Pouco de Toronto


O tempo passa muito rápido, parece que mais ainda por estas bandas. Toronto é uma cidade grande, centro de um aglomerado de cidades menores, uma megalópole moderna, com uma vasta mas não tão complexa malha de metro, trem, ônibus, VLT e também um trem de superfície que roda pelas ruas do centro, nos moldes do saudoso “bonde”. Como toda cidade deste porte, Toronto não foge daquela face feita de concreto, mas que contrasta com belos parques, bairros residenciais, e o especial Lago Ontario, que mais parece um mar ao sul da cidade.
Os rostos são bem diferentes dos que vimos em Motreal, parecem menos relaxados, mais sérios e preocupados com o ritmo um pouco mais acelerado das coisas – uma cara mais séria, embora a diversidade parece quebrar um pouco este padrão, o que me parece bom. As nações se apresentam basicamente com três grandes grupos: os chineses, os indianos e os canadenses – aqui eles aparecem em maior número que os quebecois eram notados em Montreal. Aliás, em minha última semana por lá me disseram que “Toronto era uma grande cidade sem alma”... Cedo ainda pra dizer sim ou não...
A Oeste da metrópole fica Mississauga, uma cidade até que grande que mistura uma bela área residencial, com um bom número de empresas, e também uma parte rural, com pequenas propriedades produtivas cortadas por estradinhas-avenidas, once se navega sentindo um ar de interior, parecido com aquele do interior de São Paulo sentido Bragança Paulista. E é nesta cidade que estamos fincando os pés. Motivo: foi o lugar que conhecemos juntos, Angélica (Caique na barriga...), Bibi e eu, em 2006 quando estivemos por aqui pra visitar o nosso país-candidato naquela época, onde vivem nossos amigos de coração grande: Bruno (o pai), Ruth (a mãe), Matheus e Bia (os filhotes quase da mesma idade dos nossos), e a amiga-irmã-companheira-paupratodaobra Neide. Já que teriamos que enfrentar mais um adeus, que ao também fosse pra estar perto de pessoas queridas.
E cá estamos nós: falta encontrar as escolas pra Angélica poder ir pro trabalho, enquanto eu já estou indo pro meu desde segunda. Ahhh! E enfim temos a casa, mas os móveis ainda não chegaram... Mas esta é uma longa história, pra uns 10 posts...